Uma técnica, já consolidada em países diversos da Europa, África e América do Norte, capaz de acelerar o desenvolvimento de vacinas e torná-lo mais eficiente e barato. Trata-se do modelo de infecção humana controlada (CHIM, na sigla em inglês), que será tema de simpósio internacional inédito no Brasil, realizado na UFMG entre quinta (8) e sexta-feira (9), em parceria com a Universidade de Oxford e o Centro de Tecnologia de Vacinas da universidade mineira.
Dezenas dos principais nomes desse procedimento em todo o planeta estarão em Belo Horizonte para compartilhar os conhecimentos. Entre os palestrantes está, por exemplo o Sir Andrew Pollard, professor da Universidade de Oxford e diretor do Oxford Vaccine Group, responsável por desenvolver a vacina AstraZeneca, fundamental no combate à pandemia da Covid-19.
“O simpósio vai reunir as melhores pessoas que dominam esse procedimento no mundo inteiro. Estão vindo em peso pesquisadores da Inglaterra, dos Estados Unidos, da Austrália, e também de países do hemisfério sul, como Gana, Quênia, Uganda, Tailândia e participantes remotos do Malawi. O objetivo é mostrar o que tem sido feito mundo afora em termos dessa técnica”, explica o organizador do evento, Prof. Helton Santiago, diretor científico do CTVacinas e professor da UFMG.
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Segurança
Afinal, o que é o modelo de infecção humana controlada (CHIM)?
Os ensaios clínicos, ou seja, os testes em humanos, são uma etapa fundamental no desenvolvimento de vacinas e medicamentos. Resumidamente, essa etapa – dividida em três fases (fases 1 a 3) – consiste em encontrar de dezenas a milhares de pessoas dispostas a participar dos testes das vacinas e precisam às vezes ter perfis muito específicos.
Os voluntários, então, são vacinados com o imunizante em desenvolvimento e o chamado placebo e são monitorados durante meses ou anos: tempo em que “espera-se” que ocorra infecções naturalmente.
E o CHIM?
CHIM é a sigla de Modelo de Infecção Humana Controlada e “Basicamente, o que esses estudos fazem é infectar voluntários de pesquisas devidamente selecionados e informados com um patógeno contra o qual a vacina em desenvolvimento vai atuar”, esclarece Santiago, antes de complementar:
“É claro que isso pode soar num primeiro momento estranho, mas é um procedimento feito com muita segurança. Por isso, chama-se infecção controlada. É feito dentro de um ambiente hospitalar, não pode utilizar patógenos para os quais não tem uma cura ou que ele não seja autolimitado, como, por exemplo, ebola – porque não tem cura e ele é letal”.
Modelo consolidado
O CHIM já é consolidado em países diversos, como Estados Unidos, Inglaterra e Austrália, entre outros.
“A maioria das vacinas que a gente desenvolve hoje é testada periodicamente com esse procedimento. Por exemplo, a vacina da gripe sempre é modificada e, para essas modificações, há o teste com estudo de desafio humano”, afirma o diretor científico do CTVacinas.
“Se você pegar grandes universidades dos Estados, como Johns Hopkins, The George Washington University e Yale, os procedimentos desse tipo recorrentes: são testes para vacinas, para novos medicamentos. E isso acelera a o encontro de soluções de problemas de saúde pública”, reforça.
E no Brasil?
O CHIM ainda não é adotado. “O Brasil tem se destacado em desenvolvimento de novas vacinas e está fechando o ecossistema desde a concepção até os testes clínicos: ou seja, todo o desenvolvimento de uma vacina é possível fazer hoje no Brasil. Mas a gente ainda está atrás no uso dessa tecnologia que ajuda os pesquisadores a selecionar os melhores candidatos vacinais”, diz Santiago.
O objetivo do inédito simpósio é justamente esse: fomentar o debate para o Brasil adotar o procedimento.
“Para mostrar que não é algo de outro mundo, que há um segurança muito grande nesses modelos e, por fim, para evidenciar o Brasil está perdendo enquanto não adota o CHIM”.
Como participar?
Devido a importância do tema e dos palestrantes convidados, as inscrições presenciais estão esgotadas. Mas todos os painéis serão transmitidos ao vivo pelo canal do CTVacinas no YouTube (clique aqui). Faça a sua inscrição virtual no site oficial do simpósio – e confira todos os detalhes do evento: chim-brazil.com.br.