A UFMG e o CT-Vacinas (Centro de Tecnologia de Vacinas) abrem nesta quinta-feira (17/11) o cadastro para quem deseja contribuir, como voluntário, no desenvolvimento da primeira vacina 100% brasileira contra a Covid-19. A SpiN-Tec MCTI UFMG foi aprovada em todas as etapas prévias e chega à última grande fase: os testes em humanos.
Para participar do recrutamento de voluntário, a interessada ou o interessado deve, apenas, atender a alguns critérios:
- ser saudável e ter entre 18 e 85 anos
- ter recebido as duas doses iniciais de CoronaVac ou AstraZeneca; e uma ou duas doses de reforço com Pfizer (há pelo menos 9 meses) ou AstraZeneca (há pelo menos 6 meses)
- residir em Belo Horizonte durante os 12 meses de estudo
- não estar grávida nem amamentando
Se você atende a esses critérios e deseja contribuir para um marco na ciência brasileira, clique AQUI.
Como serão os testes?
Dentre as pessoas cadastradas, o CT-Vacinas e a Unidade de Pesquisa Clínica em Vacinas (UPqVac) da UFMG farão uma triagem para selecionar os voluntários: são 72 para a Fase 1 e 360 para a Fase 2.
“Os selecionados, então, serão avaliados clinicamente e laboratorialmente num processo chamado de triagem. Se a pessoa for elegível para o estudo, ela será convidada a receber a vacina SpiN-TEC MCTI UFMG. A pessoa vai no dia da vacinação, faz os procedimentos adequados e fica de observação por até 1h. Depois, já está liberada para ir pra casa e faremos o monitoramento ao longo de 1 ano”, explica Helton Santiago, professor da UFMG e coordenador da fase de testes clínicos, ou seja, em humanos.
A equipe que executa os testes clínicos fará ligações periódicas para os voluntários para saber como estão se sentindo. Além disso, as pessoas farão sete visitas programadas ao centro de pesquisa (UPqVac), da Faculdade de Medicina da UFMG, onde a dose será aplicada:
- com 1 semana após a aplicação
- 2 semanas
- 28 dias
- 90 dias (3 meses)
- 180 dias (6 meses)
- 270 dias (9 meses)
- 360 dias (cerca de 1 ano)
Importância dos voluntários
A primeira vacina contra Covid-19 totalmente desenvolvida no Brasil só pode chegar aos braços dos brasileiros após os testes clínicos. Portanto, os voluntários e voluntárias são essenciais para o marco na nossa ciência.
“A SpiN-TEC MCTI UFMG está conseguindo fechar uma lacuna no desenvolvimento tecnológico no Brasil. Temos ótimos pesquisadores básicos que desenvolvem vacinas, testam em animais e fazem descobertas sensacionais. Também temos ótimos pesquisadores clínicos, que fazem ensaios, testam medicamentos e seguem protocolos gerando dados de grande relevância. Falta essa ponte entre um e outro”, celebra Helton Santiago, também pesquisador do CT-Vacinas.
“Faltava superar o chamado vale da morte das inovações. Então, a SpiN-TEC MCTI UFMG tem possibilitado ao Brasil criar essa expertise: transferir conhecimento da equipe básica para a pesquisa clínica. Tem exigido que uma equipe enorme se especialize na regulação ético-regulatório, síntese de produtos fabricados com condições de boas práticas de manufatura e arranjo com a indústria”, complementa o estudioso, ao citar Funed, Hipolabor e Ouro Fino como parceiras no desenvolvimento do imunizante contra Covid-19.
Expectativa
Para chegar a esta última etapa, a SpiN-TEC MCTI UFMG já passou por várias e criteriosas fases. A última delas foram os testes em animais, que confirmaram a eficácia e a segurança da vacina.
“A expectativa, agora, é que a vacina confirme o que observamos em outras fases: que seja segura e imunogênica. Esperamos que induza resposta imunológica nos participantes, assim como induziu nos extensivos testes em animais”, reforça Santiago, mestre e doutor em Bioquímica e Imunologia, pela UFMG.
Em outubro, a Anvisa liberou o teste clínico da vacina. Hoje, recebeu o sinal verde do sistema CEP/Conep, formado pela instância máxima de avaliação ética em protocolos de pesquisa com seres humanos e os Comitês de Ética em Pesquisa.
Quando chega aos postos?
Após realizar as fases 1 e 2 dos testes clínicos, o grupo que desenvolve a SpiN-TEC MCTI UFMG vai mandar tudo o que foi observado em relatórios e solicitar autorização para a última fase da atual etapa: a terceira, cujo teste é feito em 4-5 mil voluntários.
Se tudo transcorrer sem imprevisto algum (a Anvisa pode, por exemplo, pedir que algum aspecto do teste seja refeito), é possível que a vacina 100% brasileira contra Covid-19 já comece a ser aplicada, de fato, em 2025.
“Demora, em média, de 20 a 30 anos para uma vacina ser desenvolvida. Lógico que a pandemia fez com que esse desenvolvimento fosse muito abreviado. Mas continua sendo um desenvolvimento muito rápido, já que os estudos da SpiN-TEC começaram em novembro de 2020”, afirma Helton Santiago.
“É um marco para a ciência brasileira e, reforço, com o desenvolvimento com um tempo muito bom. Não à toa é a primeira vacina 100% brasileira a chegar a esse estágio de desenvolvimento”, finaliza.