Representação De Um Vírus

Febre Oropouche: estamos em risco? o que sabemos?

O ano mal começou e a gente não para de ser bombardeado com notícias de casos por todo o país de arboviroses, como dengue e chikungunya.

Apesar do altíssimo número de ocorrências, que pode ser recorde na nossa história, é normal que esta época do ano concentre esses tipos de casos.

O que não é corriqueiro na vida da brasileira e do brasileiro é a aparição de uma doença cujo nome não é familiar:

Febre oropouche.

Em Manaus, apenas neste ano, já foram registradas mais de 500 ocorrências dessa febre, conforme o boletim epidemiológico daquela cidade, divulgado no dia 27.

Mas, afinal, que doença é essa? Tem chance de se espalhar por todo o Brasil? É perigosa, fatal?

“A oropouche não é uma doença nova. O que está surpreendendo é o fato de que o número de pacientes infectados era relativamente baixo e, de repente, houve essa explosão de contaminações”.

Quem explica é uma das referências do Brasil em arboviroses, professor da UFMG e da coordenação do CTVacinas, Flávio da Fonseca.

“O alarme das autoridades de saúde é, principalmente, em razão da possibilidade de haver a expansão da área de ocorrência, ou seja, casos para além da região amazônica”.

Hmmm… então não é uma doença nova e há, sim, a preocupação de se alastrar pelo Brasil.

De onde surgiu essa doença?

Conhecida como uma doença amazônica, a febre oropouche é uma arbovirose, ou seja, uma doença transmitida por mosquitos contaminados com o arbovírus da Oropouche (OROV), da família Bunyaviridae (sorogrupo Simbu).

É igual a dengue, disseminada pelo Aedes aegypti?

Bem parecida. A transmissão ocorre por meio de uma variedade diferente de mosquitos, Culicoides paraensis, comumente conhecidos como maruins ou mosquito-do-mangue ou, ainda, mosquito-pólvora.

Mas o Aedes aegypti também pode, sim, atuar como potencial disseminador da febre oropouche.

“Na região amazônica, segue o mesmo padrão que outros arbovírus seguiram há anos: circula normalmente em animais silvestres amazônicos, mamíferos. Quando o pica um animal doente e depois pica um ser humano que invade aquela região, que está próxima à região de floresta, a doença é transmitida”, explica Fonseca.

É o chamado ciclo silvático!

“Ou seja, quando um vírus circula em animais, mas pode escapulir para um centro periurbano, que fica em volta de uma floresta – e aí tem um aumento no número de casos de pessoas já que, em um ambiente urbano, o Aedes aegypti também pode transmitir”.

É o que está acontecendo no Amazonas.

E há a dificuldade de diagnosticar a febre oropouche, já que os sintomas das arboviroses (dengue, chikungunya, zika e afins) são semelhantes: dores de cabeça, atrás dos olhos e nas articulações.

“Um diagnóstico correto é essencial porque esse vírus é completamente diferente do vírus da dengue, zika e chikungunya. É de uma família diferente”, alerta Flávio da Fonseca.

“Então, a infecção por dengue, por exemplo, não protege contra o oropouche e vice-versa, assim como uma vacina para dengue, ou uma eventual vacina para chikungunya, também não protege contra essa febre”.

E como descobrir se estamos contaminados ou não?

“Hoje, ainda não existe kit diagnóstico comercial. No Amazonas, é feito pela Fiocruz e o órgão equivalente à Funed [Fundação de Vigilância em Saúde do Amazonas, a FVS]”, responde Fonseca.

“Se houver alastramento da febre oropouche, certamente será ainda mais importante termos a oferta desses kits diagnósticos. Aqui, no CTVacinas, estudamos incluir oropouche em um kit que estamos desenvolvendo para detectar dengue, chikungunya e zika”.

Por enquanto, nenhum caso foi registrado em Belo Horizonte. Mas é bom ficar atento…

E uma notícia não tão animadora: podem surgir novos arbovírus, ainda mais com o avanço do desmatamento.

“Certamente, em um ambiente pouco explorado como a Amazônia brasileira e outras regiões de florestas pelo mundo, existem vírus que têm potencial de se adaptar ao ser humano, que a gente não conhece ainda”, afirma Flávio da Fonseca.

“E aspectos como o desmatamento, a destruição de florestas, acabam expondo ou deslocando esse vírus que normalmente circularia nas regiões de floresta para infectar outros hospedeiros potencialmente mais disponíveis”, complementa o especialista, antes de finalizar;

“No caso, somos nós, humanos”.

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