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Beatriz Alvarenga segura máscara do Einstein

CTVacinas exalta uma vida dedicada à inspiração: Beatriz Alvarenga

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Com UFMG

Cem anos de inspiração para a carreira docente, para a pesquisa e, especialmente, para a mulher. O CTVacinas lamenta profundamente o falecimento de Beatriz Alvarenga, professora emérita da UFMG, referência no ensino de física e primeira mulher a lecionar a disciplina no Colégio Estadual Central.

E exalta, com a mesma intensidade, a inspiração construída por uma vida dedicada ao ensino, ao compartilhamento do saber.

“É um sentimento de perda, mas, ao mesmo tempo em que a gente lembra a trajetória dela, a gente sente mais energia para a rotina, para o dia a dia, para enfrentar os desafios. E lembra o quanto vale a pena se manter ativa e atuar nessa atividade tão bonita que é a carreira docente e a carreira de pesquisador”, resume Ana Paula Fernandes, professora da UFMG e integrante do comitê gestor do CTVacinas.

“A professora Beatriz Alvarenga tem um passado de ensino na área de física muito impressionante porque é uma área que, normalmente, as mulheres não têm uma projeção muito grande. E ela teve a preocupação de tornar o ensino de física mais agradável para que jovens e crianças pudessem se interessar pelo assunto”, pontua Santuza Teixeira, também professora da UFMG e integrante do comitê gestor do Centro de Tecnologia de Vacinas.

Uma vida dedicada à inspiração

Nascida em 1923, em Santa Maria de Itabira, a 140 quilômetros de Belo Horizonte, Beatriz Alvarenga mudou-se aos 10 anos com a família para a capital mineira. Ela foi a primeira professora de Física do Colégio Estadual Central de Belo Horizonte (Escola Estadual Milton Campos), nos anos 1940, quando o ensino ministrado por mulheres era restrito a trabalhos manuais, ginástica e culinária.

Em 1946, foi a única mulher formada em Engenharia Civil na então Escola Livre de Engenharia, instituição que, anos mais tarde, seria incorporada à UFMG.

Beatriz Alvarenga
Beatriz Alvarenga inspirou mulheres, docentes e pesquisadores (Reprodução/UFMG)

Em entrevista que resultou em perfil publicado em 2013 na Revista Diversa, Beatriz contou que escolheu o curso de Engenharia porque era a área que mais se aproximava da matemática, já que naquela época ainda não existia formação em Física no Brasil.

No entanto, antes mesmo de concluir a graduação, já sabia que não atuaria como engenheira. “Desde o começo da faculdade eu dava aulas. É o que sempre gostei de fazer”, explicou ela, que acabara de completar 90 anos.

“Eu fico imaginando quantos obstáculos, quantas dificuldades ela teve que vencer para realizar um sonho e conseguir fazer todas essas contribuições que ela fez para a formação de recursos humanos no país e para o avanço da ciência e do ensino de física”, reforça Ana Paula Fernandes.

Criação de departamento na UFMG

Em 1968, a professora foi uma das responsáveis pela criação do Departamento de Física no Instituto de Ciências Exatas da UFMG. Na década de 1970, Beatriz escreveu, em parceria com o colega Antônio Máximo, também professor da Universidade, a coleção Física – contexto e aplicaçõesbest-seller didático que a tornou conhecida nas salas de aula espalhadas pelo país.

“Ela viveu o ensino 24 horas por dia e passou a vida inteira querendo ver a educação melhorar”, afirmou o amigo Antônio Máximo, em depoimento à mesma reportagem.

Até 2010, a coleção se chamava Curso de física e chegou a vender 1,3 milhão de exemplares por ano. As obras foram traduzidas para o espanhol pela Editora da Universidade de Oxford e distribuídas para toda a América Latina.

Beatriz Alvarenga sorrindo
Beatriz Alvarenga foi a primeira mulher a dar aula de física no Estadual Central (Foca Lisboa/UFMG)

“A primeira vez que eu ouvi falar da Beatriz Alvarenga foi no ensino médio, ao estudar pelos livros dela de física. Já me chamava a atenção naquela época que uma mulher escrevia livros de física – e todos os professores de física falavam muito bem dela como professora e como autora dos livros que a gente usava”, relembra Ana Paula Fernandes.

“Depois, quando entrei para a universidade, comecei a descobrir a importância dela não só para a área de física, mas para o crescimento da universidade e também como uma mulher inserida já naquela época, num contexto de um ambiente essencialmente masculino na ciência e na área de física”, complementa a integrante do comitê gestor.

Beatriz Alvarenga aposentou-se em 1987 e, dois anos depois, recebeu o título de professora emérita da UFMG.

Pioneira da ciência

Em 2018, Beatriz foi uma das 10 mulheres incluídas na sétima edição da lista Pioneiras da ciência no Brasil, iniciativa do Programa Mulher e Ciência, que fomenta a participação das mulheres nas ciências e tecnologias e estimula o protagonismo de jovens em diversas áreas do conhecimento.

“Foi uma pioneira, mulher pioneira: tanto na área de ensino de física quanto como pesquisadora”, exalta Santuza Teixeira.

Mesmo fora da sala de aula, a professora continuou dedicando-se ao ensino de física. Ela transformou em laboratório um imóvel que adquiriu ao lado de sua casa no bairro Floresta. No local, em meio a objetos como esferas de Hoberman, óculos 3D e eletroímãs, ela recebia estudantes e docentes. Beatriz também visitava escolas em Belo Horizonte e no interior do estado.

Beatriz Alvarenga foi casada com o professor de português Celso Álvares e não teve filhos. Mas deixou dezenas de sobrinhos e uma legião de estudantes que aprenderam a desvendar os segredos da física em seus livros.

“A Beatriz Alvarenga foi e sempre será uma inspiração para nós, mulheres, para nós, que atuamos na carreira docente, no magistério superior. Inspiração para essa trajetória, para enfrentar os desafios que ainda continuam permeando a nossa atividade”, resume Ana Paula Fernandes.

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