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Mpox: CTVacinas se antecipa à emergência global e avança em desenvolvimento de vacina

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O Centro de Tecnologia de Vacinas da UFMG, o CTVacinas, está próximo de iniciar a última etapa no desenvolvimento de um imunizante contra mpox, a dos testes em humanos.

A importância da tecnologia ganhou ainda mais projeção após a declaração da OMS (Organização Mundial de Saúde) no último dia 14: a doença constitui emergência em saúde pública de importância internacional em razão do risco de disseminação global e de uma potencial nova pandemia.

“Desde 2022, estamos trabalhando com o desenvolvimento de uma vacina contra mpox. Temos muitos resultados pré-clínicos demonstrando indução de neutralizantes, resposta celular e proteção robusta contra a doença”, afirma o coordenador do CTVacinas e do Instituto de Ciência e Tecnologia de Vacinas (INCTV), Ricardo Gazzinelli.

Governo federal instala Centro de Operações de Emergência em Saúde em resposta à mpox | José Cruz/Agência Brasil

A vacina do CTVacinas, da UFMG, está exatamente em qual estágio?

“Toda a parte de escalonamento do vírus MVA [cepa atenuada do vírus vaccinia, do gênero causador da varíola], que vai ser usado como a vacina do mpox já foi realizada. Então, o que falta fazer agora é submeter à Anvisa para que a gente entre para o ensaio clínico de fase 1”, responde a pesquisadora responsável pelo desenvolvimento, Karine Lourenço, líder de plataforma no CTVacinas.

Resultados promissores

Os primeiros testes do desenvolvimento mostram bons resultados | Virgínia Muniz/CTVacinas

A equipe está produzindo o chamado Dossiê de Desenvolvimento Clínico de Medicamento (DDCM) para enviar a Anvisa e, assim, receber o sinal verde para começar os testes em humanos.

“Esse processo dura alguns meses porque a gente vai precisar construir todo um arquivo falando de todos os testes que nós fizemos e de como a vacina se comportou”, detalha Karine Lourenço, pesquisadora com dós-doutorado do centro.

Todos os testes já realizados até agora, em boas práticas de laboratório (BPL), apresentaram resultados excelentes.

“Foram feitos estudos de segurança, imunogenicidade e eficácia. Então, agora, nós já estamos crescendo o vírus para fazer estoques e a expectativa que eles possam ser transferidos para as farmacêuticas que completariam a produção”, explica Gazzinelli.

Além da eficácia, os pesquisadores ressaltam a segurança da vacina.

“É um vírus atenuado, não replicativo, extremamente seguro: pode ser usado em populações imunossuprimidas, em mulheres grávidas. Apesar de ser uma vacina viva, ela não se replica – ou seja, entra no nosso corpo, produz todos os antígenos, gera imunidade, mas não fecha o ciclo replicativo”, afirma o pesquisador associado do CTVacinas coordenador do estudo, Flávio da Fonseca.

Prioridade nacional

O imunizante foi elencado como uma das prioridades da Rede Vírus, comitê de especialistas em virologia criado pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) para o desenvolvimento de diagnósticos, tratamentos, vacinas e produção de conteúdo sobre vírus emergentes no Brasil.

Vacinas ultrapassam obstáculos para chegar à população | Virgínia Muniz/CTVacinas

“Estamos fazendo algo que não existia: um processo de escalonamento. Produzir esse vírus na indústria é muito difícil porque é um vírus que precisa, na bancada, no laboratório, de etapas de ultracentrifugação para ser purificado, para eliminar contaminantes, eliminar impurezas”, explica Fonseca, também professor da UFMG.

O estudioso esclarece que esse processo de ultracentrifugação não é escalonável, não é transferível para a indústria, o que torna ainda mais importante esse vacina desenvolvida em Minas Gerais.

Nova pandemia à vista?

A monkeypox chegou a passar pelo Brasil durante o surto global em 2022. Mas aquela variante, chamada de clado 2, é menos agressiva do que a atual, clado 1B, que causou a declaração da OMS.

“Ele tem uma letalidade 10 vezes maior do que o vírus que causou a doença, o surto global em 2022, e por isso está chamando a atenção da comunidade internacional”, reforça Flávio da Fonseca.

O aumento de casos e a disseminação pela continente africano é sem precedentes, afirma Fonseca.

Pesquisador trabalha em laboratório
Equipe do CTVacinas trabalha para finalizar desenvolvimento de imunizante | Virgínia Muniz/CTVacinas

“E no primeiro surto, a transmissão era basicamente sexual entre homens que fazem sexo com homens. Desta vez, há transmissão sexual, mas há outras formas de transmissão, tanto que há um aumento substancial de casos entre crianças até 15 anos. Isso tem causado muita preocupação global”, reforça.

Com as mudanças climáticas, há sim o risco de pandemia, como a própria OMS afirma.

“A perspectiva é complicada, a não ser que a gente comece a tomar ações agora. O grande alívio é que, nesse caso, a gente já tem vacinas disponíveis conhecidas e também medicamentos”, diz Flávio, antes de complementar:

“embora, recentemente tenha saído artigo científico mostrando que esse vírus é mais resistente a medicamentos que normalmente se usa para infecções por pox vírus, que é o grupo do mpox”.

No Brasil, ainda não há casos registrados de clado 1B.

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