Pesquisador Coleta Swab De Nasofaringe De Paciente

Técnica barateia testagem em massa de Covid-19 por RT-PCR

Por Centro de Comunicação Social da Faculdade de Medicina da UFMG

Pesquisa da Faculdade de Medicina avaliou a técnica de agrupamento de amostras, chamada pool testing, como forma de aumentar a oferta e baratear testes para detecção da Covid-19. A iniciativa, inédita na América Latina, abre portas para testagem em massa em momentos como a volta às aulas de escolas e também em ambientes de trabalho e cenários de baixa prevalência da doença na sociedade.

No pool testing, até 32 amostras de swab de nasofaringe podem ser utilizadas para um mesmo reagente no método RT-PCR. Se o pool der negativo, todos os testados estão liberados. Caso o pool confirme um resultado positivo, as amostras são testadas individualmente para localizar os infectados dentro daquele grupo.

A técnica foi adaptada para a testagem de Covid-19 pelo pesquisador Murilo Soares Costa, autor de tese de doutorado defendida na semana passada no Programa de Pós-graduação em Infectologia e Medicina Tropical. Segundo ele, não é necessária uma nova coleta para os testes individuais de pools que positivarem para o vírus. “Após a coleta, armazenamos o swab em um meio de cultura viral, possibilitando a repetição de quantos testes forem necessários”, explica.

Já a padronização e a aplicação da metodologia técnica de pool testing foram desenvolvidas por Hugo Sato, pesquisador do CTVacinas, durante projeto de conclusão de curso. Contribuíram, ainda, no processamento dessas amostras, Alex Fiorini e Karine Lourenço, também pesquisadores do Centro de Tecnologia de Vacinas da UFMG.

Os testes foram realizados no CTVacinas, com amostras coletadas na UPA Centro-Sul de Belo Horizonte. Cada pool incluiu 3, 4, 8, 12 ou 16 amostras, a depender do cenário epidemiológico, analisado pela equipe semanalmente. Quanto menor a chance do resultado ser positivo, mais amostras podem compor um mesmo grupo.

Na UPA, foram coletadas 1.358 amostras de pacientes suspeitos de Covid-19, que deram entrada no serviço de setembro de 2020 a março de 2021. Ao todo, os pacientes foram divididos em 504 pools. Destes, 333 foram detectáveis para Covid-19, enquanto 171 acusaram resultados não detectáveis.

No âmbito dos 171 pools que negativaram havia amostras de 459 pacientes. Nos grupos que positivaram, foram feitos testes individuais (com um reagente para cada amostra), a fim de localizar os infectados. Dessa forma, foram evitados o uso de 288 reagentes.

A testagem concluiu que 915 pacientes não estavam com Covid-19, enquanto 443 foram diagnosticados. O resultado foi obtido, em média, entre 48 e 72 horas após a coleta.

O pesquisador defende o uso do pool testing para a ampliação dos diagnósticos via RT-PCR, o padrão-ouro para Covid-19. “O Brasil falhou no quesito testagem. Vimos um apagão de exames, com baixa oferta da RT-PCR durante alguns momentos da pandemia, prejudicando, principalmente, comunidades mais pobres. Com os pools, teríamos respostas mais rápidas, com menores custos e dependência da compra de reagentes”, afirma o pesquisador.

Para ele, o Brasil está pronto para avançar nesse setor. “Há laboratórios centrais em todos os estados com larga experiência no uso do RT-PCR. Seria necessário, apenas, que os responsáveis técnicos fossem capacitados para montarem os pools”, pontua.

A técnica adaptada para o cenário da Covid-19 em Belo Horizonte foi desenvolvida durante a Segunda Guerra Mundial para a testagem de sífilis entre soldados. Atualmente, sua principal aplicação é direcionada à detecção de HIV entre doadores de sangue nos Estados Unidos.

Agrupamento de amostras associado à autocoleta

Murilo Costa: 'Brasil falhou no quesito testagem' (Murilo Costa/Arquivo pessoal)

Murilo Costa: ‘Brasil falhou no quesito testagem’ (Murilo Costa/Arquivo pessoal)

Um braço da pesquisa testou os alunos da Faculdade de Medicina da UFMG na volta das férias dos internatos – períodos finais do curso de Medicina, com atuação prática nos serviços de saúde.

Os alunos realizaram uma autocoleta com o swab. “Avaliamos que nenhuma amostra foi mal coletada, e nenhum dos participantes se lesionou com a autocoleta”, comenta Murilo Costa. O método reduziu em 154 o número de reagentes necessários para o grupo. O custo total foi de R$591. Caso não fossem aplicadas as técnicas de pool testing e de autocoleta, o custo teria sido de R$ 6.153, ou seja, 90% maior. Isso se deve ao maior número de reagentes, insumos e profissionais necessários para executar o processo.

As conclusões da pesquisa de doutorado mostraram que a testagem em pools aumenta a detecção de novos casos pela ampliação da oferta de exames. Os benefícios também são observados no acompanhamento epidemiológico da população. A aplicação pode ser vantajosa em situações de volta às aulas, em ambientes de trabalho, em grupos de pacientes que aguardam por cirurgias eletivas, em pessoas assintomáticas que tiveram contato direto com casos positivos ou em outros cenários com baixa prevalência.

A técnica também pode ser empregada em pacientes admitidos em serviços de saúde, como UPA e UBS, em momentos de alta vacinação e baixa prevalência do vírus. Murilo Costa lembra que o cenário para 2023 ainda requer cuidados. “A testagem é necessária: na dúvida, faça o teste. Se possível, faça o RT-PCR. Há muitas doenças com sintomas parecidos, e o teste pode mudar as intervenções clínicas”, aconselha o pesquisador.

A pesquisa recebeu o apoio da Capes, do CTVacinas, por meio da Rede Vírus do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI), do Ministério da Educação (MEC), por meio da Secretaria de Ensino Superior, e da Prefeitura de Belo Horizonte, por meio da Unidade de Pronto Atendimento (UPA) Centro-Sul.

TeseInvestigação do Sars-CoV-2 para rastreamento da Covid-19 por meio da RT-PCR em pool testing
Programa: Pós-graduação em Ciências da Saúde – Infectologia e Medicina Tropical
Autor: Murilo Soares Costa
Orientador: professor Unaí Tupinambás
Defesa: 16 de dezembro de 2022

Procurar